A Segunda-feira, 10 de Maio de 1937, foi dia de festa na Rocha do Conde de Óbidos, mais precisamente nas instalações do estaleiro naval da Administração-Geral do Porto de Lisboa, então concessionado à Companhia União Fabril.
Aproveitando a preia-mar, pouco depois das 16 horas, nesse dia foi lançado ao Tejo o lugre CREOULA, acabado de construir para a Parceria Geral de Pescarias e destinado à pesca do bacalhau.
Uma depressão na Biscaia condicionou o estado do tempo nessa tarde, num dia com algum vento, instabilidade e chuviscos. Tal não obstou à realização de uma grande festa, pois além do nosso CREOULA procedeu-se ainda ao lançamento do seu gémeo SANTA MARIA MANUELA.
Um dos privilégios de me dedicar à história dos navios é poder viajar no tempo, pelo que estive lá. Logo pela manhã ultimaram-se os trabalhos decorativos para a cerimónia do lançamento dos navios. Quando pouco depois das 15H30 começaram a chegar ao estaleiro as entidades oficiais convidadas, já lá se encontrava uma grande multidão, com destaque para as centenas de operários do estaleiro.
Uma companhia de Marinha, do Navio-escola SAGRES, com a respectiva banda, prestava a guarda de honra. O Chefe do Estado, General Óscar Fragoso Carmona presidiu ao lançamento do CREOULA, tendo-se registado o cerimonial de uso em tais actos. O navio deslizou suavemente a carreira, levando a bordo engenheiros, contramestres e operários e foi depois rebocado enquanto um hídro-avião da Aviação Naval executava impressionantes evoluções, a banda da SAGRES tocava, as sereias dos navios em porto apitavam e a multidão se manifestava com entusiásticos vivas. O CREOULA entrou no Tejo com a maior felicidade.
Durante a construção dos dois CREOULAS trabalhou-se no estaleiro dia e noite tendo participado nos trabalhos 540 técnicos e operários. Segundo Alfredo da Silva, responsável máximo da Companhia União Fabril e anfitrião por ocasião do lançamento do CREOULA, "o navio foi construído com uma perfeição de acabamento como não se faz já hoje (em 1937, claro) no estrangeiro, onde se quer principalmente produzir depressa e barato." Passados 74 anos o CREOULA navega orgulhosamente ao largo de Sesimbra, confirmando Alfredo da Silva...
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